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O blog da Nina, menina que lia quadrinhos.

domingo, 15 de outubro de 2017

Mulheres Brasileiras de 1922



Mulheres Brasileiras de 1922



     Começou o horário de verão e é melhor adaptar-se ao horário. Das muitas histórias para contar, estão as memórias longínquas da infância. Os muitos domingos com visitas às casas das tias da mamãe e às casas das tias do papai.
     Geração de 1922. Eu jamais teria a noção de quanta importância essas pessoas teriam na minha vida.
      _"Conversa de adulto criança não se mete."
     Com a recomendação feita antes de sair de casa, além daquela de não comer mais do que duas fatias de bolo, íamos às visitas.
     Eles, nem pai e nem mãe, não perceberam que todos os tios tinham carinho por eles porque perderam pai e mãe enquanto eram jovens adultos.
     "_Que triste! As crianças não têm avós."
     Tivemos mais avós do que a maioria das crianças têm.
     "_Criança não esquece". Falemos tudo que possamos.
     Deseducaram com muito amor.
     _O seu pai está errado, ele e a sua mãe gostam de tangos e boleros. Tangos e boleros dizem em resumo: "quiero que tu sufras, sufras e sufras. Coloca no gramofone um disco da Chiquinha Gonzaga. Vamos educar essas crianças.
     Era de enlouquecer de alegria qualquer criança. O gramofone tinha que dar corda feito relógio de corda. O chiado do disco era incrível. Ensinaram-nos a dar corda no gramofone e colocar os ouvidos perto do tubo por onde saía o som. O chiado do disco era grande, mas a música, audível.
     Outras "tias":
     _As mulheres têm que saber que podem ser solteiras, que podem se casar apenas se quiserem e realmente gostarem dos seus maridos. Se souberem disso. como nós sabemos, terão a chance de ver isso que estamos vendo agora: uma família de fato.
     Por essa eles não esperavam. Ficaram sem resposta e boquiabertos.
     _Por outro lado, vocês têm que saber que algumas pessoas precisam de dinheiro e posição social para serem respeitados em sociedade. Não falamos de santo algum, mas ele tem duas opções: ou ser rico ou ser ridículo. Por ser da nossa família, é melhor que seja rico.
     Um chá e alguns biscoitos e grandes reflexões, depois, em casa.
     Uma figura melhor que a outra, todas cultas.
     Uma outra, incompreendida. Amava as terras e mantinha sozinha uma chácara, apesar de ser professora normalista. Todos os finais de semana eram sábados e domingos de chácara. Na chácara morava um casal, eram os caseiros que tomavam conta da pequena criação de animais e domavam alguns cavalos chucros, ainda por serem domados.
     Todos se incomodavam com essa atitude: 
     "_Sozinha, num lugar sem luz elétrica, com animais chucros e um casal de desconhecidos."
     O gênio dela era fantástico e a resposta pronta:
     _Eu não empresto o carro de ninguém. Sou professora e tenho chácara e não tenho dinheiro para comprar automóvel. O meu dinheiro é para manter a chácara.
     A encrenca foi tanta que, por fim, a minha mãe a apoiou, afinal a tia era do marido.
     Ela, agradecida pelo apoio, convidou a minha mãe para ir à chácara com ela, para isso poderia levar as crianças.
     Nós, na hora, dissemos para que a mãe fosse com ela. Oba!
     Era dia de semana e cedo. Ela levou nas sacolas algumas galinhas e um porquinho novo para ser reprodutor.
     Sentimos muito, mas ela transgrediu as normas do ônibus. Era proibido levar animais vivos dentro do ônibus.
     No meio do caminho, o motorista disse que estava ouvindo barulho de animais e que se alguém tivesse com animais à bordo teria que descer. A minha mãe ficou pálida e olhou para ela.
     Ela, acostumada com alguns transtornos causados pelos animais, não teve dúvidas, olhou para o motorista e disse:
     _Senhor motorista. Eu estou aqui com a minha sobrinha e os filhos dela. Os coitadinhos não sabem o que é uma chácara. Eu tenho uma chácara e estou levando as crianças para passarem o dia convivendo com a natureza. Para que eles não se assustem quando chegarem lá, eu os ensino como é que os bichos são. O senhor me perdoe, mas eu tenho que fazer isso para poder ter um dia agradável.
      Ah..;.
     O motorista deu um ar de riso esperto e disse para não exagerar no barulho.
     _Crianças, deem milho para as galinhas que elas param de cacarejar. É a pipoca delas. Joguem o milho dentro da sacola e tomem cuidado para não levarem bicadas.
     As galinhas ficaram quietas. "Óinc", o porquinho reclamou a falta de comida.
     Outro tio:
     _A sua educação foi muito severa. O carnaval é uma distração, sabendo brincar, é só diversão. Quem não presta, não presta. Mas quem sabe se comportar, não se incomoda nunca. Também, se se incomodar, volta pra casa que no dia seguinte tem mais. É bom saber se divertir.
     Esse acompanhou o casal até o fim dos seus dias.
     Certa vez, eles deram uma festa, mas convidaram somente os parentes mais chegados. Esse tio, embora fosse frequentador da casa, não foi convidado porque para convidar um e não convidar outro, seria magoar gente que eles queriam bem. A festa das Bodas de Prata foi só para os irmãos deles.
     No meio da festa, toca a campainha. Eram o tio e a esposa dele.
     Eles ficaram tristes e se justificaram por não os terem convidado.
     O tio simplesmente disse:
     _Desculpas? Para que pedir desculpas? Eu tenho amigos na polícia. Eles me avisaram. Aliás, ali do prédio da polícia da para saber tudo a respeito de vocês. Eles disseram que tinha festa. Eu sou lá homem de precisar de convite para ir à casa da minha sobrinha?
     Ele fez isso por volta dos oitenta anos de idade. Grande figura masculina do modernismo, para não deixar de fora os homens.
     Agora, o meu comentário:
     Se o Brasil perder todas essas características e se tornar sujo, dando prioridade aos temas odientos, radicais, promíscuos e desrespeitar a grande maioria do seu povo, dará chance a tudo de ruim que possa acontecer.
     As memórias do país vão se perdendo como as filas para comprar comida durante a Segunda  Guerra Mundial, a Semana de Arte Moderna e os costumes liberais para as mulheres, onde a liberdade de pensamento era mais importante que essa promiscuidade sexual dos dias de hoje, quando o que se tem que enfrentar são as ideias que suprimem as liberdades individuais de ir e vir porque as moças têm medo de entrarem em ônibus para saírem, porque colocam conotação sexual na infância, porque ninguém pode ignorar o terrorismo, os discursos de ódio e a odienta vingança que já levou  outros países ao totalitarismo, porque as ideologias estão se tornando obrigatórias e essa é uma ideia perversa, enfim é hora de parar para pensar na Semana de 22.

     
     
      

     

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